Corpo pós-maternidade: você não precisa se cobrar tanto.

Não conseguir que o corpo “volte a ser como antes” é, muitas vezes, entendido como fracasso, indisciplina, e falta de força de vontade.

Entre os muitos temas que podem trazer insegurança e ansiedade para as mulheres que são ou virão a ser mães, as possíveis mudanças no corpo durante e após a gestação ocupam um lugar significativo.

É inegável que, na nossa cultura, as mulheres sofrem com pressões estéticas, que são uma série de fatores socialmente convencionados sobre como um corpo feminino deve aparentar, e as mídias se encarregam de reforçar essa mensagem diariamente. Desta forma, não é difícil entender de onde vem medos e angústias sobre estrias, flacidez, aumento de peso e “não conseguir recuperar o corpo”. Afinal, estamos muito bem informadas sobre o que é e o que não é um corpo aceito socialmente.

Essa frase sobre “recuperar o corpo” é digna de atenção. Remete à ideia de como se a gestação gerasse a obrigação de que o “estrago seja consertado”. Por extensão, não conseguir que o corpo “volte a ser como antes” é, muitas vezes, entendido como fracasso, indisciplina, falta de força de vontade.

Será que é assim mesmo que acontece?

O fato é que a maternidade traz transformações bastante intensas, que podem ser visíveis ou não. São hormônios, concepções de mundo, reorganização de órgãos internos, dúvidas e a distensão da pele que carrega uma vida em formação que, por mais que eventualmente retraiam e não sejam perceptíveis aos olhos, não tem mais como ser os mesmos de antes.

Muitas das angústias vem desse terreno desconhecido, principalmente com as mães de primeira viagem. E é fato que não existem certezas nessa jornada, além da que a vida será diferente. Pode ser que a ideia de “nem parecer que é mãe” quando se refere ao corpo, soe como um elogio. Mas, se pararmos para refletir, será que ocupar os pensamentos de uma mãe recente com pensamentos sobre formas de combater os sinais de tudo que se processou ali nos últimos meses é justo?

Com o nascimento do bebê, vem outra onda de emoções e necessidades de adaptação, o processo de amamentação, cólicas, padrões de sono recortados, uma relação diferente com o trabalho, baby blues. Qual é a real necessidade de se impor um prazo para que, além disso tudo, não haja nenhuma marca visível de algo tão grandioso? E seriam essas marcas algo tão negativo para precisarem ser combatidas com tanto ímpeto?

Mães não precisam de preocupações extras. Cada corpo é único e vai responder da forma que puder às transformações, e permita-se o seu tempo. Tempo para gestar, para viver o puerpério, reorganizar sua vida e rotina, que agora inclui o bebê. Nada é mais importante que o seu legítimo bem-estar, físico e emocional.

 

Por Mariana Galesi Bueno, psicóloga do IPCAC.

Texto originalmente escrito para Manual da Mamãe.

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