A Insônia e Transtornos do Sono-Vigília

Dificuldade de pegar no sono? Sentir-se cansado(a), passando o dia com sono e mesmo assim não conseguir dormir ao chegar em casa? Despertar-se uma ou inúmeras vezes durante a noite? Dormir um sono superficial e agitado que faz com que no dia seguinte você se sinta como se praticamente não tivesse dormido? Despertar antes do horário previsto e não conseguir voltar a dormir? Todas essas queixas são muito comuns, mas infelizmente a maioria das pessoas não busca tratamento. Cerca de 3 a cada 10 pessoas no mundo tem queixa de insônia.

A insônia nunca vem sozinha. Em outras palavras, quando existe insônia, existe algum transtorno mental ou condição clínica associados. Ter insônia e não ter alguma condição associada é algo extremamente raro. Insônia crônica está presente em 90% dos portadores de transtornos mentais graves. Mas muito antes disso, a insônia é um sintoma extremamente comum em transtornos ansiosos, na depressão e no transtorno bipolar. Nos casos de depressão, a insônia inclusive costuma aparecer antes dos demais sintomas depressivos, como humor deprimido, isolacionismo, falta de energia, etc. Como se não bastasse, além das alterações do sono serem um sintoma clássico dos transtornos depressivos e ansiosos, são também o principal fator de risco potencialmente tratável para a depressão. Em outras palavras, quem tem um transtorno mental geralmente tem sono alterado e quem tem sono alterado e ainda não tem um transtorno mental, pode estar iniciando um ou ao menos estar sob risco aumentado para tal.

Existem vários sintomas relacionados a insônia: fadiga, problemas de atenção, concentração e memória, irritabilidade, sonolência durante o dia, falta de motivação, perda de energia, propensão a erros, dor de cabeça, tensão, sintomas gastrointestinais, entre outros.

E quais as consequências de uma insônia não tratada? Muitas! Vou mencionar alguns clássicos: piora do desempenho no trabalho, nos estudos e nas relações sociais, piora da qualidade de vida, aumento em até 4 vezes do risco de acidentes de trânsito, aumento da chance de adquirir ou agravar alguma doença ou condição clínica (várias doenças apresentam relação com insônia: diabetes, hipertensão, AVC, doença cardíaca coronariana, artrite, fibromialgia, dor crônica, câncer, entre outras) ou transtorno mental (principalmente transtornos de ansiedade, depressão e transtorno bipolar).

A insônia, portanto, pode aparecer tanto como um dos sintomas de um transtorno mental já instalado como também como agente causador de transtornos mentais e doenças clínicas. Pode ainda se constituir em um transtorno por si só. Nesse último caso, falamos dos Transtornos do Sono-Vigília. Cito alguns abaixo:

-Transtorno de Insônia (aqui a insônia existe pelo menos 3x/semana por pelo menos 3 meses, entre outros critérios);
-Transtorno de Hipersonolência (sonolência excessiva apesar de pelo menos 7 horas diárias de sono);
-Narcolepsia (períodos recorrentes de necessidade irresistível de sono);
-Transtornos do Sono relacionados à respiração (Apneia e Hipopneia Obstrutiva do Sono, Apneia Central do Sono e Hipoventilação Relacionada ao Sono);
-Transtorno do Sono-Vigília do Ritmo Circadiano (desequilíbrio entre o “relógio biológico” individual e os horários socialmente impostos gerando sonolência excessiva e insônia);
-Parassonias (Transtorno de despertar do sono Não REM, como o Sonambulismo e Terrores no sono, Transtorno do Pesadelo, Transtorno Comportamental do Sono REM e Síndrome das Pernas Inquietas);

E como tratar a insônia? Como vimos, como a insônia está quase sempre relacionada a algum transtorno mental ou doença clínica, antes de tratá-la é necessário descobrir o que a está causando. Para tal, é necessário realizar avaliação com profissional capacitado. Após essa avaliação, será indicado o tratamento correto, com base na raiz do problema. É importante que avaliação profissional seja feita com o fim de evitar algo muito comum: o abuso e uso indiscriminado de medicamentos hipnóticos, benzodiazepínicos e demais medicações com potencial em causar dependência. Em uma frase: tratar insônia apenas com medicações que induzem sono é tapar o sol com a peneira.

Para todos os casos em que existe insônia é interessante verificar se os hábitos estão adequados para um sono adequado. Aí vão algumas orientações sobre higiene do sono:

-Levantar todos os dias no mesmo horário e manter uma rotina de sono mesmo no final de semana;
-Evitar dormir durante o dia;
-Evitar fazer várias atividades na cama durante o dia (Ex: preferir fazer um trabalho no escritório ou na sala do que na cama, assistir TV na sala e não na cama);
-Evitar uso de álcool, café (cafeína) e cigarro (nicotina);
-Realizar atividade física regular (dando preferência por encerrá-la até no máximo 4 horas antes de dormir);
-Evitar atividades estimulantes durante à noite: assimilar problemas através do celular, etc;
-Evitar deixar a casa muito iluminada (evitar luz branca, preferir luz amarela);
-Evitar telas de celular, tablets, notebook, TV, e locais iluminados (principalmente se as mesmas não estiverem no modo noturno/”amarelado”);
-Realizar atividades que você considere monótonas antes de dormir;
-Não fazer refeição pesada antes de dormir e também não deitar com fome (fazer lanche leve antes de dormir);
-Se não conseguir dormir, levante-se depois de 20 a 30 minutos, não fique tentando dormir;
-Se não conseguir dormir, procure se distrair. Por exemplo,: ler fora do quarto em ambiente com luz baixa e amarela (não-branca) até o sono vir;

Dr. César Antônio Caldart,
Médico Psiquiatra.

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