Obesidade e Cirurgia Bariátrica.

A obesidade é caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura corporal no indivíduo e o número de pessoas obesas aumenta a cada ano. As causas para chegar à obesidade podem ser várias, desde genéticas, ambientais e comportamentais (hábitos de vida, alimentares e sedentarismo), endócrinas e psicológicas. A Organização Mundial de Saúde aponta a obesidade como um dos maiores problemas de saúde pública no mundo e a projeção é que, em 2025, cerca de 2,3 bilhões de adultos estejam com sobrepeso e mais de 700 milhões, obesos. Os Estados Unidos representam a maior nação com prevalência de obesidade no mundo, porém no Brasil a situação não está muito diferente. Estima-se que mais de 50% da população esteja acima do peso. Dados da ABESO (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica) de 2008-2009, mostraram que na Região Sul a população adulta já era nesta época mais de 56%.

Frente à esse cenário, o tratamento para a obesidade ganhou uma forte aliada, a Cirurgia Bariátrica e metabólica. Para ter indicação e realizar a cirurgia, é preciso apresentar IMC acima de 40 Kg/m², ou acima de 35 Kg/m² associado à comorbidades, ou ainda acima de 30 Kg/m² associado à comorbidade grave e não tratável, mas somente o médico cirurgião poderá avaliar se o paciente tem mesmo a indicação e também os riscos do procedimento para cada paciente. Uma vez definida a cirurgia, é preciso ter o acompanhamento e laudo de liberação (que mostra que o paciente passou por acompanhamento prévio e está apto pela equipe multidisciplinar a realizar a cirurgia). A equipe deve ser composta por: endocrinologista, cirurgião, cardiologista, psiquiatra, psicólogo e nutricionista.   

A cirurgia bariátrica, popularmente conhecida como redução do estômago, ganhou mais espaço pela importância que tem apresentado no tratamento de comorbidades como diabetes e hipertensão. Atualmente existem várias técnicas para tratamento da obesidade mórbida, sendo assim, cada técnica possui vantagens e desvantagens que devem ser analisadas em cada paciente pelo cirurgião. Os procedimentos são restritivos (porque reduzem o volume de alimentos que entram no sistema gastrointestinal) e podem ser disabsortivos (pois diminuem a absorção dos nutrientes pelo intestino) ou ainda mistos, quando usam as duas técnicas. As técnicas conhecidas são: Gastrectomia Vertical ou Sleeve Gastrectomy (grampeamento do estômago reduzindo 80% do seu tamanho original e perda média de 25 a 30% do peso inicial, é restritiva), Duodenal Switch (é a mais invasiva, perde-se de 40 a 45% do peso, é mista porém, predomina a disabsorção, redução de 70% do estômago e desvio intestinal), Banda Gástrica (vem caindo em desuso no Brasil, pois não apresenta grandes vantagens), Balão intragástrico (não é cirúrgico, apenas procedimento endoscópico e temporário) e a mais utilizada no mundo atualmente é a Bypass gástrico em Y de Roux. Esta é uma técnica mista (restritiva e disabsortiva), onde é criado um reservatório de aprox. 50 ml e o desvio de cerca 1,5 m do intestino delgado. A técnica evoluiu bastante e hoje os cirurgiões já não utilizam mais o anel de silicone no “pouch” gástrico, que antigamente era utilizado e que provocava vômitos frequentes, dificuldade de adaptação à cirurgia e reoperações para sua retirada. A perda média de peso é em torno de 35 a 40% do peso inicial. Uma das grandes vantagens dessa cirurgia é que atua na diminuição do hormônio Grelina, responsável pela sensação de fome. Este hormônio é produzido em sua maior parte, justamente na parte que ficará isolada após a cirurgia, gerando assim uma diminuição do apetite.

A nutrição como integrante da equipe multidisciplinar tem grande importância no pré e pós-cirúrgico. É o nutricionista que vai acompanhar a redução de peso antes da cirurgia e orientar todas as evoluções dietéticas a serem feitas, passando pelas consistências líquida, pastosa, branda e posteriormente a dieta livre, cada uma no seu tempo. No caso da técnica Bypass, a baixa absorção de ferro, cálcio e vitamina B12, são situações que precisam de vigilância e suplementação frequente. A síndrome de Dumping (sintomas como sudorese, taquicardia, sonolência que acontecem pela rápida passagem do alimento rico em açúcar no intestino) pode acontecer na maioria dos pacientes e neste caso precisa evitar a ingestão de carboidratos refinados e fazer algumas combinações nas refeições para que este nutriente seja absorvido mais lentamente.

Após a cirurgia é um recomeço. O paciente precisa se habituar às novas quantidades de alimento que vai aceitar, ter orientação adequada em relação à qualidade do que consome, de maneira a otimizar a absorção dos nutrientes e evitar carências nutricionais.

O acompanhamento multidisciplinar se faz necessário para o resto da vida. Deve ser feito consultas e exames laboratoriais periódicos, conforme o tipo de cirurgia e as rotinas estabelecidas pela equipe responsável. O acompanhamento médico, psicológico e nutricional é fundamental para que não haja o reganho de peso e novos hábitos de vida possam ser incorporados. Manter uma vida longe do sedentarismo, mente saudável e alimentação adequada é o que vai trazer a manutenção do peso. É preciso lembrar que a Cirurgia Bariátrica é apenas um passo para a melhoria da qualidade de vida, a grande diferença está nos novos hábitos de vida a serem seguidos.

Texto Dra Karla Zanin Collesel.

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