O homem sabe se cuidar?!

 

     Homem é forte. Homem não chora. Eis os ditos populares que por gerações determinaram como os homens deveriam se comportar diante de suas dores físicas e psíquicas. De fato, historicamente parece que os meninos, hoje homens já bem crescidinhos, aprenderam muito bem esta crença distorcida. Uma boa demonstração disso é que os homens apresentam uma resistência muito maior que as mulheres em buscar atendimento médico quando dele necessitam. Dados do Ministério da Saúde mostram que os homens apresentam uma concentração de consultas por habitante 71 vezes menor que as mulheres!

     De uma forma contraditória, se por um lado o homem hesita em buscar atendimento, por outro lado, podemos dizer que é ele sim o sexo frágil desde seu nascimento até sua morte. Para ilustrar melhor esta questão, vou mencionar aqui abaixo alguns dados, focando especialmente no Brasil:

  • Os maiores índices de mortalidade infantil estão no sexo masculino;
  • A taxa de mortalidade geral no Brasil na faixa etária de 20 a 59 anos é 2,3 vezes maior em homens do que em mulheres, chegando a 4 vezes maior em homens mais jovens;
  • Os óbitos por causas externas (acidentes de trânsito, homicídios, quedas, etc) são claramente maiores entre os homens jovens (20 a 29 anos de idade);
  •  Os homens morrem 8 vezes mais que as mulheres quando se fala em doenças cardiovasculares e 3 vezes mais quando se fala em doenças infecciosas e parasitárias.

     E então? Será que o homem sabe se cuidar? Será que o homem é o sexo forte e resistente? Será que homem não chora? Como vimos, o homem, quando comparado às mulheres, não sabe se cuidar.  Além deles apresentarem estatisticamente mais fatores comportamentais de risco (uso de álcool e outras drogas, alimentação inadequada, menor uso de filtro solar, maior exposição a situações de risco para morte por causas externas) também procuram alarmantemente menos os serviços de saúde quando dele necessitam.

     Se o homem já resiste em ir ao médico quando sofre de um problema físico, o que dirá quando sofre de um problema mental, não é mesmo? De fato, quando falamos em saúde mental, os dados mais uma vez são desfavoráveis para os homens. Apesar das mulheres apresentarem um número três vezes maior de tentativas de suicídio em relação aos homens, os óbitos por suicídio são 3 vezes maiores em homens do que em mulheres. Em outras palavras, ser homem se constitui em um dos fatores de risco para suicídio! Além disso, aqui não estamos sequer mencionando as mortes causadas indiretamente por outros transtornos mentais, a exemplo da dependência química por álcool e outras substâncias psicoativas (a qual acarreta em doenças clínicas e mortes por causas externas, como acidentes de trânsito e violência) e que também, de uma forma geral, é mais prevalente no sexo masculino.

     Talvez o primeiro passo para mudar este mórbido cenário masculino deva nascer na educação que é dada aos meninos. Ensinar a eles, desde pequenos, que é completamente normal passar por algum sofrimento na saúde física e também na psíquica ao longo da vida. Explicar que qualquer um (seja homem, seja mulher) pode ficar muito triste, se machucar, ficar doente… E que, nesses momentos, é muito mais inteligente buscar ajuda médica do que simplesmente negar o que está ocorrendo. Enquanto não mudarmos este paradigma cultural continuaremos vendo este triste panorama estatístico. A propósito, não é à toa que conhecemos muito mais viúvas do que viúvos.

Texto escrito pelo Dr. César Antônio Caldart (médico psiquiatra)

Referências bibliográficas:

– Clínica Psiquiátrica-HCFMUSP- Euripedes Constantino Miguel, Valentin Gentil, Wagner Farid Gattaz.- Barueri, SP: Manole, 2011.

– Suicídio: Informando para prevenir (Cartilha da Associação Brasileira de Psiquiatria vigente para a Campanha do Setembro Amarelo 2019)

– Acesso a página oficial do Ministério da Saúde do Brasil em 11/11/2019 (http://saude.gov.br/)

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